11/11/2011

* A VIDA EM BRONZE

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ROBERTO DRUMMOND
Escritor Brasileiro


Estatua em bronze exposta na Praça da Savassi, Belo Horizonte, BR.
 
 
Welington Almeida Pinto
 
Domingo de sol encoberto. Tempo frio, ameaçando chuvas. Bom para ficar em casa, abrir uma cervejinha, ouvir uma boa música e, quem sabe, acessar memórias e emoções guardadas no inconsciente.
Assim, como numa película, as lembranças de alguns companheiros de literatura começam a movimentar minha cabeça: do poeta Henry Correia de Araújo, Antônio Barreto, Blay Barbosa, Célius Aulicus, Chico Motta, França Júnior... Tanto que bateu uma vontade de sair de casa, e procurar um bardo daquele tempo para um bate-papo numa mesa de bar.
Pensei chamar o poeta Reis para visitar outro poeta: Paschoal Motta, no bairro Cachoeirinha. Mas, com um tempo feio desse, desisti. Achei melhor caminhar até o ‘Café da Travessa’ e, quem sabe, encontrar o Belisário, um dos poucos literatos que ainda encontro, vez ou outra, pelos bares da vida.
Saio de casa a pé, levando apenas um guarda-chuva. Desço a Rua Leopoldina , pego a Avenida do Contorno e, em poucos minutos, chego ao estabelecimento, na Savassi. Mas a casa estava fechada.
Sem ter mais o que fazer, eu atravesso a Avenida Getúlio Vargas e paro em frente à estátua de Roberto Drummond, plantada na praça Diogo Vasconcelos - praça que divide o fluxo de gente que vem todos os lados da cidade.
Surpreendo-me com o estado de conservação do bronze, que não está à mercê dos pombos e das intempéries. Parabéns!... Lentamente, giro o corpo em torno da estátua, sento-me num banco ao lado do escrevinhador, célebre por levar o tom de poesia à crônica esportiva brasileira.  Logo começo a imaginar mil coisas a respeito de quem já morreu e tem uma escultura em sua homenagem na região da cidade que tanto inspirou sua obra.
Roberto Drummond é a primeira pessoa imortalizada em um monumento que conheci na vida. Caso raro, eu sei. Lembro que dois dias antes dele se ‘encantar’, passando pelos jardins da Boa Viagem encontrei o companheiro parado numa das portas laterais da Igreja. Ao parar para cumprimentá-lo, a primeira coisa que perguntei foi o que fazia ali tão sozinho. Ele comprimiu o sorriso e disse: - Nada, perambulando.
Aguçado de novo pelas indagações, observo que uma ou outra pessoa adulta movida pela curiosidade, tocava no corpo estático do escritor comentando alguma coisa. Em seguida, duas crianças chegam e começam a brincar com a imagem de ferro. Primeiro, fingem tomar o livro que Roberto tem numa das mãos. Depois, divertindo e rindo à beça, elas pegam a se enroscar no corpo mineral do escritor.
Penso em voz alta:
 - Meu amigo, que saudade!... Sua lembrança na história da literatura brasileira é forte. Sabia, como ninguém, colorir uma narrativa esportiva de forma especial, como grande craque da palavra escrita.
Interessante!... Não há como negar, as estátuas são mesmo testemunhas silenciosas de um passado de glória. Tão confortantes à memória das pessoas que, na Europa, até as figuras menos célebres também são imortalizadas em praças públicas - na França, Mademoiselle Anne Marie, a queijeira que aprimorou a receita do queijo Camembert, está lá toda imponente na entrada de sua cidade, imortalizada em bronze.
- Bom dia, Roberto. Salve!...
 
Nota: Escritor brasileiro agraciado com “Prêmio Jabuti”, em 1975, pela publicação do livro A Morte de D. J. em Paris. Roberto Drummond escreveu O Dia em que Ernest Hemingway Morreu Crucificado" (romance, 1978), Sangue de Coca-Cola (romance, 1980) e Quando Fui Morto em Cuba (contos, 1982). Com Hitler Manda Lembranças (romance, 1984) e Ontem à Noite Era Sexta-feira (romance, 1988) iniciou uma nova fase em sua produção literatura, com enredos mais complexos. Em 1991, lançou seu maior sucesso, o romance Hilda Furacão, que foi adaptado para a televisão por Glória Perez, numa minissérie.


• FBN© 2006 * A VIDA EM BRONZE - Categoria: crônica. Autor: Welington Almeida Pinto – abril/2006 - Categoria: Conto – Gênero: Realismo Mágico - Autor: Welington Almeida Pinto – Original text: Portuguese - Iustr.:  foto Internet – Link.:  http://fantasticorealismo.blogspot.com.br/2012/06/blog-post_2421.html

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