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ROBERTO DRUMMOND
Escritor Brasileiro
Welington
Almeida Pinto
Domingo de sol
encoberto. Tempo frio, ameaçando chuvas. Bom para ficar em casa, abrir uma
cervejinha, ouvir uma boa música e, quem sabe, acessar memórias e emoções
guardadas no inconsciente.
Assim, como
numa película, as lembranças de alguns companheiros de literatura começam a
movimentar minha cabeça: do poeta Henry Correia de Araújo, Antônio Barreto,
Blay Barbosa, Célius Aulicus, Chico Motta, França Júnior... Tanto que bateu uma
vontade de sair de casa, e procurar um bardo daquele tempo para um bate-papo
numa mesa de bar.
Pensei chamar
o poeta Reis para visitar outro poeta: Paschoal Motta, no bairro Cachoeirinha.
Mas, com um tempo feio desse, desisti. Achei melhor caminhar até o ‘Café da
Travessa’ e, quem sabe, encontrar o Belisário, um dos poucos literatos que
ainda encontro, vez ou outra, pelos bares da vida.
Saio de
casa a pé, levando apenas um guarda-chuva. Desço a Rua Leopoldina , pego a
Avenida do Contorno e, em poucos minutos, chego ao estabelecimento, na Savassi.
Mas a casa estava fechada.
Sem ter mais o
que fazer, eu atravesso a Avenida Getúlio Vargas e paro em frente à estátua de
Roberto Drummond, plantada na praça Diogo Vasconcelos - praça que divide o
fluxo de gente que vem todos os lados da cidade.
Surpreendo-me
com o estado de conservação do bronze, que não está à mercê dos pombos e das
intempéries. Parabéns!... Lentamente, giro o corpo em torno da estátua,
sento-me num banco ao lado do escrevinhador, célebre por levar o tom de poesia
à crônica esportiva brasileira. Logo
começo a imaginar mil coisas a respeito de quem já morreu e tem uma escultura
em sua homenagem na região da cidade que tanto inspirou sua obra.
Roberto Drummond
é a primeira pessoa imortalizada em um monumento que conheci na vida. Caso
raro, eu sei. Lembro que dois dias antes dele se ‘encantar’, passando pelos
jardins da Boa Viagem encontrei o companheiro parado numa das portas
laterais da Igreja. Ao parar para cumprimentá-lo, a primeira coisa
que perguntei foi o que fazia ali tão sozinho. Ele comprimiu o sorriso e
disse: - Nada, perambulando.
Aguçado de
novo pelas indagações, observo que uma ou outra pessoa adulta movida pela
curiosidade, tocava no corpo estático do escritor comentando alguma coisa. Em
seguida, duas crianças chegam e começam a brincar com a imagem de ferro.
Primeiro, fingem tomar o livro que Roberto tem numa das mãos. Depois, divertindo
e rindo à beça, elas pegam a se enroscar no corpo mineral do escritor.
Penso em voz
alta:
- Meu
amigo, que saudade!... Sua lembrança na história da literatura brasileira é
forte. Sabia, como ninguém, colorir uma narrativa esportiva de forma especial,
como grande craque da palavra escrita.
Interessante!...
Não há como negar, as estátuas são mesmo testemunhas silenciosas de um passado
de glória. Tão confortantes à memória das pessoas que, na Europa, até
as figuras menos célebres também são imortalizadas em praças públicas - na
França, Mademoiselle Anne Marie, a queijeira que aprimorou a receita do
queijo Camembert, está lá toda
imponente na entrada de sua cidade, imortalizada em bronze.
- Bom dia,
Roberto. Salve!...
Nota: Escritor
brasileiro agraciado com “Prêmio Jabuti”, em 1975, pela publicação do livro A Morte de D. J. em Paris. Roberto Drummond
escreveu O Dia em que Ernest Hemingway
Morreu Crucificado" (romance, 1978), Sangue de Coca-Cola (romance, 1980) e Quando Fui Morto em Cuba (contos, 1982). Com Hitler Manda Lembranças (romance, 1984) e Ontem à Noite Era Sexta-feira (romance, 1988) iniciou uma nova fase
em sua produção literatura, com enredos mais complexos. Em 1991, lançou seu
maior sucesso, o romance Hilda Furacão,
que foi adaptado para a televisão por Glória Perez, numa minissérie.
• FBN© 2006 * A VIDA EM BRONZE - Categoria:
crônica. Autor: Welington Almeida Pinto – abril/2006 - Categoria: Conto –
Gênero: Realismo Mágico - Autor: Welington Almeida Pinto – Original text:
Portuguese - Iustr.: foto Internet – Link.: http://fantasticorealismo.blogspot.com.br/2012/06/blog-post_2421.html
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